Felipe Jablonski Psicanálise

"Somos um corpo falado, inventado por outros. Nos inventamos com partes de outros na medida que os costuramos, recortamos e colamo-nos em si, formando uma unidade. Enquanto um caleidoscópio com inúmeras facetas provindas de fora, há enfim, um Eu. Nada do que há em nós é nosso, nada do que somos é original, e ainda assim, paradoxalmente, o somos."    Felipe Jablonski

Aliviar o sofrimento psíquico é um dos objetivos de uma análise. No entanto, essa tarefa não pode ser realizada sem que nos coloquemos em jogo, assumindo nossa posição como sujeitos desejantes na trama que nos moldou e nos trouxe até o momento presente. Investir no processo analítico é, de fato, investir na possibilidade de transmutar algo em novo, é fazer a si mesmo a pergunta fundamental que Lacan tão bem expressou: “che vuoi?” - O que você deseja? Não um desejo como objeto a ser buscado, mas como causador de movimento. 

Esse processo envolve fazer perguntas onde antes havia certezas cristalizadas que, por vezes, não foram suficientes para lidar com as dificuldades da vida ou que apenas serviram por um período limitado. É como sair do piloto automático que atendia apenas às demandas externas, agora internalizadas.

Por meio da fala, buscamos dar sentido ao que antes parecia perdido, oculto ou inexprimível. Criamos nossa própria interpretação dos eventos, em vez de nos basearmos unicamente na perspectiva de outra pessoa. Expressar nossas inquietações, desvios ou obstáculos que impactam nosso caminho de vida é um processo complexo. Deixar que outros definam o significado de nossas experiências é como se esconder atrás de um véu que cria uma falsa sensação de ordem e realidade, mas que não reflete em autenticidade.

Reforço: não é uma jornada fácil, mas aqueles que enfrentam seus próprios incômodos estão dispostos a viver de forma mais genuína, mesmo que isso signifique abrir mão de coisas importantes. A coragem é o que resta.